Orientação para o Trabalho Autónomo
Um dos principais propósitos da educação é desenvolver nos cidadãos capacidades de aprender ao longo da vida e de pensar por si próprios (OCDE, 2019). Um aluno autónomo é aquele que compreende e assume uma atitude responsável pela sua própria aprendizagem, refletindo sobre o processo de aprendizagem, nomeadamente as ações, técnicas e decisões que lhe estão associadas (Holec, 1979; Ben-Zvi & Sfard, 2007). Neste processo, o professor é um ator fundamental no desenvolvimento de autonomia desde o início da escolarização. Quanto maior o investimento do docente na promoção destas capacidades, maior a capacidade do aluno de evoluir e tomar decisões de forma autónoma. O atual contexto veio catalisar a urgência de uma educação em que as práticas já não são um processo que acontece para o aluno, mas que acontece com o aluno (Bayse, 2014).
Neste sentido, a disciplina de Orientação para o Trabalho Autónomo (OTA) não é desvinculada do trabalho que é desenvolvido em contexto escolar, ou seja, não é um trabalho autodidata, mas sim um trabalho articulado com as aprendizagens essenciais e intencional nas propostas apresentadas aos alunos, sendo determinante a partilha, nomeadamente sobre o propósito e o processo de aprendizagem. Como resolver? Envolvendo os alunos na exploração de tarefas em que trabalhem em ambientes de aprendizagem enriquecidos em tecnologia que permitem a todos prosseguir as suas curiosidades individuais e tornar-se participantes ativos na definição dos seus próprios objetivos educativos, na gestão da sua própria aprendizagem e na avaliação do seu próprio progresso.
Desconhecendo a forma como os alunos, à distância, vão utilizar os recursos do projeto #EstudoEmCasa, torna-se premente a criação de uma disciplina que dê orientações sobre como potenciar a sua utilização, uma vez que não existirá um momento para receção de feedback. Ainda assim, os alunos têm oportunidade de aceder a um conjunto de propostas e materiais nos dossiês pedagógicos de cada disciplina, promovendo o questionamento sobre como desenvolver o seu estudo autónomo. Desta forma os alunos perceberem o currículo formal e informal porque a sua experiência influencia o seu sentido de si mesmo como indivíduo, aluno e como membro da escola (Harris, 1994). Assim, pretende-se que, de forma autónoma, os alunos sejam capazes de regular a sua aprendizagem, identificando os pontos fortes e as oportunidades de melhoria utilizando instrumentos diversificados como um portfólio organizado, quizes, testes de autoavaliação, checklists de aprendizagens essenciais e ferramentas online que podem apoiar neste processo.
Os documentos curriculares em vigor preconizam que, ao longo da escolaridade obrigatória, em todas as áreas do currículo os alunos necessitam de orientação para estruturar as aprendizagens, para se organizarem de forma autónoma e também para criarem hábitos e métodos de estudo. No documento Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória encontra-se preconizado que: “As competências na área de Desenvolvimento pessoal e autonomia dizem respeito aos processos através dos quais os alunos desenvolvem confiança em si próprios, motivação para aprender, autorregulação, espírito de iniciativa e tomada de decisões fundamentadas, aprendendo a integrar pensamento, emoção e comportamento, para uma autonomia crescente” (ME, 2017, p. 26).
Neste contexto, como resposta de apoio ao trabalho desenvolvido pelas escolas e com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da autonomia do aluno, foi criada a disciplina Orientação para Trabalho Autónomo – OTA. Trata-se de uma disciplina transversal, complementar a todas as disciplinas, do 1.º ao 12.º anos, dos ensinos básico e secundário, abrangendo os cursos científico-humanísticos, bem como os cursos profissionais.
Assim, cada bloco pedagógico temático de OTA visa ajudar os alunos a:
- reconhecer os seus pontos fracos e fortes, considerando-se como elementos ativos em diferentes aspetos da vida;
- ter consciência da importância de crescer e evoluir;
- ser capazes de expressar as suas necessidades e de procurar as ajudas e apoios mais eficazes para alcançarem os seus objetivos;
- desenhar, implementar e avaliar, com autonomia, estratégias para conseguirem atingir metas e desafios que estabelecem para si próprios.
- ser confiantes, resilientes e persistentes, construindo caminhos personalizados de aprendizagem de médio e longo prazo, com base nas suas vivências e em liberdade (ME, 2017, p. 26).
Operacionalização
A disciplina de Orientação para o Trabalho Autónomo, no 1.º ciclo, é transversal às áreas disciplinares de Português, Matemática e Estudo do Meio e Cidadania, Educação Artística e Educação Física, potenciado pela dimensão de englobar hábitos de estudo, organização, além de pretender fomentar a autonomia. Através do desenvolvimento dos diferentes temas, procura ajudar os alunos a entenderem-se como pessoas em desenvolvimento e conhecerem-se nas suas relações interpessoais, na constatação das suas potencialidades e na identificação de oportunidades de desenvolvimento.
Nos 2.º e 3.º ciclos e secundário, OTA é concretizada a nível de cada disciplina, nas suas próprias especificidades, fazendo sempre referência a saberes e percursos que sejam comuns e transversais.
Além disso, outros blocos pedagógicos temáticos desta disciplina contaram com a colaboração e apoio de diferentes entidades que, na sua prática profissional, representam uma mais valia para esta disciplina.
Importa ainda referir que, neste contexto, é fundamental que os diferentes atores das comunidades educativas entendam a Orientação para Trabalho Autónomo como um recurso que procura contribuir com ferramentas de apoio ao desenvolvimento do trabalho autónomo do aluno e ao desenvolvimento pessoal e emocional, fundamentais ao longo de todas as etapas da vida pessoal, profissional e social.
OCDE, 2019. Student_Agency_for_2030_concept_note. http://www.oecd.org/education/2030-project/teaching-and-learning/learning/student-agency/Student_Agency_for_2030_concept_note.pdf
ME, 2017. Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.
ME, 2018. Aprendizagens Essenciais